sábado, 4 de outubro de 2008

Uma Passagem com o Nelson Cavaquinho

Em entrevista dada à Folha de São Paulo em 2002, Paulinho da Viola relata uma passagem envolvendo o Carlinhos e o Nelson Cavaquinho. Foi em uma apresentação no teatro Opinião, onde o Conjunto Nosso Samba acompanhava todas as segundas-feiras grandes compositores e intérpretes do Samba. Foi lá que no final da década de 60 o Conjunto foi projetado, como já citado na postagem de apresentação deste blogue. Segue o trecho em que o Paulinho fala sobre o fato:
"Alguém precisava escrever um livro sobre o Nelson. Era uma pessoa muito irreverente. Muito brincalhão. Gostava de tomar as bebidas dele, tomava bem. Era um boêmio. A gente saía muito em grupo, nessa época , Elton, Jair do Cavaquinho, o Nelson. Voltávamos dessas reuniões de ônibus, já de manhãzinha. Eles iam juntos, para o mesmo subúrbio; o [governador Carlos Lacerda tinha dado casas para o , para Jair e para o Nelson. E acontecia o seguinte -não foi uma nem duas vezes, não. A gente vinha no ônibus, até a Central. Chegava na Lapa, o Nelson saltava. E o dizia Pô, Nelson, vambora. Que nada, ia para a Lapa. Ficava assim dias. Dias. Foi o único cara que eu vi cantar samba para peixeiro, antes da feira. Eu presenciei umas histórias... Mas tenho medo de contar; porque não vai traduzir o que significa. A não ser que você desligue o gravador. [Gravador desligado]

Vocês cantavam juntos na Segunda do Samba.

A gente cantava muito no Opinião. E o Nelson era adorado. Adorado. Lembro de uma vez, ele já tinha tomado todas. Fazia um calor incrível. A galera sem camisa e chamando ele Nelson, Nelson. E ele entrou. Quando o canhão de luz acendeu, tuuum ficou estático. O conjunto (o Nosso Samba) fez a introdução e ele nem percebeu. Carlinhos do cavaquinho ficou olhando para o Nelson, esperando. E ele sacou que tinha acontecido alguma coisa. Parou e ficou olhando para o Carlinhos. E o Carlinhos, meio sem graça, olhando para ele. E o Nelson olhando para o Carlinhos, com aquele cabelo caído. Aí falou: Meu filho, não olha muito para o Nelson, não, ou... [em tom grave] você se apaixona. O Nelson. O Nelson, ele falava muito assim. Quer dizer que esse lado trágico dele convivia com o lado brincalhão. Muito, muito! Era uma figurinha. Mas tinha cada samba. Vendeu muito samba, também".
Um relato de uma época em que o Carlinhos estava pouco a pouco se tornando um Malandro considerado em todas as bocadas. Alguns anos mais tarde, ambos tiveram o privilégio de gravarem sambas juntos. A primeira vez foi em 1974, no disco "Roda de Samba nº2", em duas faixas ("Quero Alegria" e "Armas proibidas"), e a segunda foi no imprescindível Lp "4 grandes do Samba", de 1977. Além disso, o Mestre gravou inúmeros sambas compostos pelo Nelson, em diversos outros discos, na voz de variados intérpretes.
Na postagem acima estará disponibilizado o disco "Roda de Samba nº2".
Aquele abraço pros irmãos Aprendizes!

Nenhum comentário: